quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Adolescência

"Invoquei Allen. Não consegui encontrar o rosto de quando era pequeno, o rosto de alegria e animação que me dava certeza sobre a perfeição do homem. Ele aparecia como a imagem daquilo em que tinha se transformado: uma pessoa tristonha, vaidosa, ressentida, isolada e cheia de segredos na dor e perplexidade de sua pubescência, uma época pavorosa e atormentadora, quando é necessário morder todo o mundo que está ao seu redor, até ele mesmo, como um cachorro em uma armadilha. Mesmo na imagem da minha mente, ele não conseguia escapar de seu descontentamento miserável, e o coloquei de lado, dizendo apenas: eu sei. Lembro-me de como é ruim, mas não posso fazer nada. Ninguém pode. Só posso dizer que vai acabar. Mas você não vai ser capaz de acreditar. Vá em paz... vá com o meu amor, apesar de neste momento não sermos capazes de aguentar um ao outro." 
(John Steinbeck. In: O inverno da nossa desesperança, p.229).